Dia 24: surreal é pouco!
- marianaoliveiracos2
- 25 de jan. de 2022
- 5 min de leitura
Sem dúvida alguma o dia mais surreal desde que começámos a nossa viagem.
Desde o início que esta viagem ao Peru estava destinada ao insucesso, mas se há coisa que temos provado a este país é que com a nossa resiliência e a capacidade de adaptação dos nossos filhos, conseguimos dar a volta a qualquer contratempo. Por falar nos nossos filhos e para que fique aqui registado para o futuro, eles merecem uma vénia gigante pela forma como têm lidado com esta viagem no geral, mas em particular com tudo o que tem acontecido no Perú.
Como definitivamente a ida a Machu Picchu estava cancelada, por a linha do comboio continuar cortada, decidimos que íamos tirar o dia todo para ir à "Rainbow Mountain".
Tudo começou com fogos de artifício às 2h00 da manhã e que não acabaram até à hora da nossa saída (7h30). Escusado será dizer que não dormimos rigorosamente nada! Miúdos levantados a ferro e às 7h05 estávamos na recepção prontos para ir ter com o nosso amigo Eliassar que nos levaria nesta aventura. Depois de tanto esforço para tentarmos estar a horas, percebemos que ele estava atrasado quase 30 minutos. Quando finalmente entramos no carro diz-nos que não vamos poder ir à montanha, uma vez que está a haver uma greve dos agricultores e as estradas estão todas cortadas para esse lado. Nem queríamos acreditar! Tanto esforço para madrugar, kits para o frio comprados ontem e de repente recebemos esta bomba para as mãos.
Mais uma vez, não havia muito a fazer pelo que a pergunta que fizemos foi: "e agora? O que podemos fazer?". Recomendou que fôssemos até à lagoa Humantay. Vimos fotografias e pareceu-nos linda. Segundo o Eliassar a viagem demoraria cerca de 3h até lá, mas depois o carro chegaria mesmo à porta da lagoa. Só não sabíamos é que os nossos conceitos de porta eram tão diferentes, mas já lá iremos.
Durante a viagem estávamos sempre em pânico de quando poderia também começar uma greve "daquele lado" do vale e ficarmos retidos sem saber quando voltar a Cusco, mas o Eliassar foi-nos sempre tranquilizando dizer que ali acreditava que não ia acontecer a greve. Passado cerca de 1h de caminho somos ultrapassados por um carro da polícia com as sirenes ligadas e que nos faz sinal para encostar. Já estávamos a achar que não íamos poder voltar e agora achávamos que íamos voltar, mas no carro da polícia por estarmos os 4 no banco de trás com os miúdos ao nosso colo e todos sem máscara. Afinal o problema não era nosso, mas sim do carro que tinha alguns documentos em falta. Felizmente não aconteceu nada e a polícia lá nos deixou seguir viagem.




Viagem essa que não foi de 3 horas, mas sim de 4h30, sendo que a última hora e meia é feita numa estrada de terra com apenas uma faixa, mas de 2 sentidos! Como tinha chovido muito a estrada estava perigosíssima e confessamos que não estávamos nada confortáveis com a situação. Estarmos só os dois nestas aventuras é uma coisa, mas termos os nossos filhos connosco, sabendo que a probabilidade de algo correr mal é grande, deixa-nos bastante inquietos.
Finalmente chegámos à "lagoa". "Lagoa", porque a dita cuja ainda ficava, segundo o motorista, a 40 minutos de ditânica a pé. Com uma chuva miudinha a acompanhar lá metemos a Vera na mochila e começámos a caminhada na esperança de encontrarmos uns cavalos que nos ajudariam na subida.





Enquanto estávamos nessa busca, cruzámos-nos com várias pessoas que já estavam a regressar da lagoa. Íamos metendo conversa e aquilo que nos diziam é que o caminho levava 1h30/1h45 e que, devido às chuvas, estava muito perigoso e escorregadio. Começámos a olhar um para o outro e achámos que seria uma loucura meter os nossos filhos em risco para vermos uma lagoa. Bem sabíamos que tínhamos feito 4h30 de carro (e que ainda faltariam outras tantas para voltar) e que não era "só uma lagoa", mas se nos acontecesse alguma coisa a um de nós durante o passeio ainda conseguíamos gerir, agora se fosse com eles a coisa poderia ficar mais chata. Sendo altamente racionais e zero emocionais, decidimos que não íamos subir até à lagoa. Levámos na mesma o Martim e a Vera até aos cavalos e ainda demos uma pequena volta com eles para não acharem que aquela viagem toda de carro tida sido em vão! Os donos dos cavalos ainda nos tentaram convencer de que seria seguro, mas com a quantidade de lama e pedras que havia pelo caminho decidimos que nunca nos perdoaríamos se algo acontecesse aos nossos filhos no meio do nada e a 4.100m de altitude.







Terminado que estava o passeio a cavalo, era hora de nos fazermos à estrada para voltarmos para Cusco e tentar almoçar pelo caminho. Passados alguns metros, tanto o Martim como a Vera adormeceram. Tendo em conta a quantidade de buracos e curvas na estrada eles deviam estar realmente cansados!
A meio do caminho parámos para tirar uma fotografia num miradouro e uns kms mais à frente parámos para almoçar. Quando abrimos a comida do dia anterior íamos desmaiando tal era o cheiro a podre! A bolonhesa que tínhamos trazido estava estragada e os miúdos desolados. Trouxemos uns ovos cozidos e panquecas do pequeno almoço, tínhamos bolachas e Pringles e acabou por ser isso o almoço. Não foi uma refeição muito completa, mas foi a possível!








O mais próximo que estivemos de uma "montanha" com cores

O nosso motorista e wannabe guia Eliassar










No fim do almoço ainda houve uma ida de emergência a esta casa de banho absolutamente nojenta!
Quando já estávamos no último terço da viagem e ansiosos por chegar a casa eis que mais uma situação desagradável surge: Martim (filho) vomita sem aviso prévio e como estava ao colo do Martim acabaram os dois a ficar todos sujos. Passados uns metros paramos numa bomba de gasolina para tentarmos limpar os Martims e o carro, mas infelizmente as bombas no Perú são ligeiramente diferentes das de Portugal! Água só havia com uma pressão fortíssima, pois servia para lavar os carros e casa de banho ou loja para comprar água, nem vê-las! Papel impossível de arranjar também. Felizmente a Mariana tinha levado roupa a mais para os miúdos, porque como íamos fazer a montanha e podia chover, decidimos levar uma muda. Assim, o Martim (filho) ficou como novo. Ao passo que o Martim (pai) não tinha absolutamente nada para trocar! As calças estavam imundas de vomitado e seria impossível continuar com elas, pelo que a solução passou por tirar as calças (e as cuecas que também estavam sujas) e vestir o poncho da chuva que sempre ajudava a tapar qualquer coisa..!
Esta situação toda foi a galhofa total para o Martim e a Vera que se vieram a rir praticamente até Cusco.



Chegados ao hotel só tínhamos dois pensamentos: ir à lavandaria para termos tudo pronto amanhã a tempo de irmos embora e tomar um banho!
Com ambas as coisas feitas era agora hora de ir jantar. Miúdos estavam mortos e nós estávamos igualmente cansados, mas também esganados de fome porque não tínhamos comido praticamente nada durante o dia.
Apetecia-nos ir jantar umas pizzas a um restaurante tranquilo e que fosse rápido. No hotel recomendaram-nos as pizzas do Chez Maggy como sendo as melhores. Decidimos confiar e como estava a chover e estávamos podres metemos-nos num táxi até lá. Ou quase até lá, visto que a rua era pedonal e ainda foi preciso andar um bocado.
Chegados ao restaurante tinha tudo menos um aspecto muito convidativo. Ainda assim, decidimos ir porque não estávamos com grande estrutura para procurar outra coisa.
Segundos após fazermos o nosso pedido, vemos 2 pessoas com uns instrumentos a entrar dentro da sala. Olhamos para trás e percebemos que estava montado um (mini) palco e que iria ocorrer um concerto. Nem queríamos acreditar! Só queríamos comer uma pizza em paz e ir dormir!!! Felizmente as músicas eram boas e a pizza também, pelo que apesar do barulho ainda foi um jantar bom e divertido.
Era hora de regressar ao hotel, mas antes quisemos tirar a última fotografia na Plaza de Armas para mais tarde recordar.



Fotografia tirada pela Vera
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