Dia 21: Cusco e...Cusco!
- marianaoliveiracos2
- 24 de jan. de 2022
- 6 min de leitura
O dia começou cedo porque tínhamos voo às 10h30 para Cusco e tendo em conta as confusões todas do dia anterior com o bilhete do Martim queríamos chegar com tempo ao aeroporto. Queríamos, mas não conseguimos! Acordar os miúdos foi um sarilho e tentar que tomassem um bom pequeno almoço de forma rápida foi missão impossível.
Chegámos ao aeroporto e faltava pouco mais do que 1h para o voo partir. Quando estávamos a chegar ao check-in a Mariana percebeu que se tinha esquecido do telemóvel no shuttle que nos tinha trazido do hotel. Como tínhamos que nos dividir para não correr o risco de perder o voo, a Mariana foi sozinha em busca do telemóvel enquanto o Martim foi com as crianças fazer o check-in. Ambas as coisas deram confusão! No caso da Mariana, ninguém estava a atender o telefone, o número de telefone do hotel não estava a funcionar, mas conseguiu encontrar no meio de 50 carrinhas da mesma empresa que nos trouxe, um amigo do nosso motorista, que muito simpaticamente conseguiu ligar para o colega, mas o colega não facilitou muito! Para além da Mariana tentar explicar que se tinha esquecido do telemóvel e que a capa era lilás, qual a fotografia de fundo do telefone, que estava naquele momento a telefonar do numero "x", o motorista estava bastante desconfiado. Então fez um sem número de perguntas e depois lá disse que precisava de 10 minutos e voltaria com o telefone. Quando chegou pediu para a Mariana tirar fotografia com o telefone, dizer qual o nome completo e o numero do quarto onde tinha estado hospedada. Isto tudo acontecia enquanto, mais uma vez, diziam ao Martim que ele não tinha voo para Cusco. Foi preciso falar novamente com a central de reservas, ter a senhora do check-in a fazer não sei quantas viagens para um lado e para o outro e falar com outras tantas pessoas para finalmente nos entregarem os cartões de embarque. Já faltava pouco mais de 40 minutos e ainda tínhamos que passar pelo controlo de segurança que felizmente foi rápido. Para essa rapidez também ajudou muito o facto de termos a Vera com menos de 3 anos, o que faz com que sejamos prioritários em tudo.
Estando dentro do autocarro rumo ao avião pensámos que finalmente podíamos descansar. E podíamos. Pelo menos por enquanto.
A aproximação à pista em Cusco é sem dúvida alguma o "momento de aviação" (!!) mais espectacular que já fizemos na nossa vida. A aterragem tem tanto de bonito como de emocionante, visto que o avião aterra no meio das montanhas e tem que ir fazendo umas curvas durante o processo.

Pés assentes no chão e era hora de irmos arranjar um táxi para nos levar até à estação de comboio de Ollantaytambo. Era certo e sabido que íamos ser enganados, visto que estávamos com alguma pressa e tínhamos duas crianças connosco. No entanto, encarámos isso como uma necessidade e mesmo assim ainda conseguimos baixar em 25€ o preço inicialmente pedido, o que fez com que uma viagem de quase 2 horas de carro nos tivesse custado cerca de 35€. Para a realidade portuguesa é dado, mas para a peruana é caro.
Entrámos no táxi desse "aldrabão peruano" que nos disse que agora íamos ter com o irmão dele a outro lado e esse irmão é que nos iria levar para a estação. Tudo isso nos pareceu estranho, mas decidimos confiar e seguir caminho.
Passados uns 10 minutos chegámos ao ponto de encontro com o dito irmão para trocarmos de carro. Durante praticamente 30 minutos de viagem não abriu a boca e no banco de trás já a Mariana, a Vera e o Martim dormiam ferrados. O Martim ia à frente a ver o caminho e a ter quase a certeza absoluta que estávamos a ser enganados e levados para um beco sem saída. Felizmente nada disso aconteceu e eram apenas "atalhos" que o motorista ia fazendo.


O caminho tem tanto de bonito como de surreal, pela quantidade de fauna que vamos encontrando: cães, lamas, alpacas, ovelhas, burros, cavalos, vacas,..! Vimos de tudo um pouco mesmo à beira da estrada. Há ainda várias pessoas que vão acenando com uns plásticos amarelos para tentar que os carros parem nas suas "bancas" e comprarem tudo e mais um par de botas. O tempo que se demora na viagem também está muito relacionado com o trânsito que se apanha, mas também com o estado miserável que se encontram as estradas.

Isto que se vê "preso" na montanha são uns cilindros onde as pessoas podem ficar a dormir. Para entrar só mesmo escalando!

Ao fim dos ditos 30 minutos lá o motorista decide começar a falar um bocado sobre a sua vida e os possíveis passeios que podemos dar enquanto estamos por estas bandas. Passado pouco tempo percebemos que o seu discurso, apesar de comercial, era genuíno e que poderíamos confiar nele. Apercebemo-nos que estava muito chateado com o seu irmão por nos ter enganado, porque ele geralmente cobra entre 80 e 100 soles pela viagem. Mas como já tinha pago 100 ao irmão não podia ficar a "arder" com 50 e por isso teria que nos cobrar os 150.
Quando estávamos a chegar à estação e depois de lhe termos dito inúmeras vezes o nosso roteiro, decide dizer-nos "atenção que vocês hoje não vão poder ir até Aguas Calientes (é a vila mesmo em baixo de Machu Picchu e de onde se parte para lá). Houve um deslizamento de terras e pedras, o caudal do rio subiu pelas chuvas fortes que caíram e a linha de comboio está cortada.". Não queríamos acreditar em duas coisas: a primeira, porque foi preciso esperar 2 horas de viagem para nos contar esta novidade que já sabia desde as 7 da manhã e a segunda que a subida amanhã ao Machu Picchu estava oficialmente cancelada. A principal razão pela vinda ao Perú foi sem dúvida alguma a subida ao Machu Picchu. É um desejo muito antigo e era o momento ideal para o podermos realizar e agora por umas chuvas fortes essa hipótese estava hipotecada.
Falámos com a empresa de comboios e o pior cenários confirmou-se: "As partidas hoje estão todas canceladas e não sabemos quando poderemos voltar a operar. Vai depender da chuva nas próximas horas/dias e da rapidez dos trabalhos de limpeza, pelo que não temos ainda dia definido".
Como o Martim é um optimista e também bastante pragmático decidiu que iríamos regressar a Cusco e que ao invés de passarmos duas noites depois da ida a Machu Picchu, passaríamos agora as 2 noites e o ideal seria rezarmos para que domingo a linha já esteja limpa e então podermos rumar a Aguas Calientes.
Visto que tínhamos que voltar era hora de negociar com o motorista que regressaríamos a Cusco por 80 soles! Como seguramente ainda estava a ganhar um bom dinheiro, aceitou e ainda pedimos para fazer um caminho diferente e passar num sítio onde fosse possível ver as roupas típicas do Perú.
No caminho ainda parámos numa vila para tentar trocar dinheiro, mas aqui não funciona como em Buenos Aires e o câmbio é igual ao do banco. Enquanto o Martim tentava trocar, a Mariana e os miúdos foram tiram fotografias com os transeuntes que estavam num banco de jardim.






De forma muito simpática, o nosso motorista levou-nos até à "textilaria" que dizia ser das poucas de confiança e que utilizava 100% de lã. Chamava-se Textiles "Amaru Wasi".
O programa acabou por ser muito giro e super didático para os miúdos. Explicaram todo o processo de fabrico e a forma artesanal e natural como era feito. As cores são todas extraídas através de elementos da natureza e o Martim e a Vera puderam experimentar como se lavava a lã com raspas de uma raiz de uma planta que há nas montanhas e água quente e ainda viram ( e fizeram) como se tingia a roupa. Era com um fungo/bactéria/insecto que aparece nos cactos e que juntando depois um bocado de sal também era possível aclarar.














Visita feita e camisolas da praxe compradas, fomos até à rua ver umas ovelhas e umas alpacas que por lá passeavam. Miúdos deliraram por poderem fazer festinhas à alpaca.
Antes de saírmos vimos que havia muitos porquinhos da Índia e explicaram-nos que "cuy asado", ou seja, "porquinho da Índia assado" é um prato muito típico do Perú. Ficaram inclusive um pouco espantados de nunca termos provado e não termos vontade de experimentar!






Da textilaria fizemos o caminho de volta a Cusco onde íamos fazer check-in no hotel para depois irmos jantar.
Fomos jantar ao Chicha e comemos lindamente. Na recepção tinham dito que era muito overrated e gourmet, mas não achámos nada. A comida era óptima e só foi pena o serviço ser altamente incompetente.

Com as aventuras todas da viagem e com o facto de termos acordado cedo, estávamos todos arrasados. A Vera estava com umas olheiras como achamos que nunca tínhamos visto, mas a aguentar-se firme e a pintar com aguarelas.
Tudo comido e hora de ir para o hotel. Queríamos ir a pé, porque ficava a 10 minutos, mas estava uma chuvada enorme, pelo que tivemos que apanhar um táxi.
Andar a pé ia ser seguramente muito custoso pelo facto de estarmos a 3.400m de altitude. Por cada passo ou cada lanço de escadas que subimos ficamos de rastos! A ideia de irmos directos para Aguas Calientes é porque fica a 2.400m e faria uma grande diferença para todos nos ambientarmos. Não foi possível, por isso há que fazer uma ambientação mais rápida agora!




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